THIS CONTENT HAS BEEN ARCHIVED

Uma nova oportunidade para os reclusos no Brasil

08.08.2016
Teaser

"Mudei completamente de vida. As mãos que destruíam agora constroem casas."
Jelletly Aron

Main Image
Text

CONTEXTO​

O Brasil ocupa o 4.º lugar a nível mundial em termos de população prisional. As más condições e a superlotação das estruturas penitenciárias dificultam as possibilidades de reabilitação dos detidos. A taxa de reincidência é de cerca de 70%, em parte devido à ausência de cursos de educação e de formação. Com o apoio da União Europeia, um projeto implementado pela Fundação AVSI está a ajudar a reabilitar os presos no Brasil.

OBJETIVOS​

  • Apoiar uma rede de organizações da sociedade civil para a promoção dos direitos humanos dos presos no Brasil.
  • Apoiar a expansão e consolidação do modelo desenvolvido pela Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC).

RESULTADOS

  • O projeto já ajudou 3 000 detidos. Entre os parceiros contam-se o Tribunal de Justiça e o Governo do Estado de Minas Gerais.

TESTEMUNHO​

Metodologia de reabilitação de presos da APAC é pioneira no Brasil e referência a nível mundial. ​

Jelletly Aron, que teve uma infância e adolescência conturbadas e imensas dificuldades financeiras, bem como uma vida familiar instável, começou por roubar pequenas coisas na escola: um lápis, uma borracha; coisas que ele mesmo não tinha. Passado algum tempo deixou de querer ir à escola e começou a roubar supermercados e a assaltar quintais, acabando por cometer crimes mais graves, usar armas de fogo e envolver-se no tráfico de droga e na toxicodependência. Foi apanhado seis vezes mas, como era menor de idade, não ficou detido durante muito tempo. Na prisão, Jelletly conheceu outras pessoas envolvidas em crimes mais graves e saiu da prisão imerso nesse mundo do crime.

Após ter sido condenado por crimes mais graves, Jelletly foi transferido para a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), na cidade de Perdões, onde a sua mãe vivia. Esta é uma das 40 APAC existentes no Brasil que praticam um método alternativo de detenção e reabilitação que humaniza as penas e prepara a reinserção dos infratores na sociedade.

Sem a presença de polícias ou de armas, os prisioneiros aprendem a interagir com o pessoal da APAC de forma mais equitativa e a recuperar o significado de valores essenciais como a sociedade, a família, a dignidade e o trabalho. Jelletly afirma que a APAC o ajudou na fase mais difícil da sua vida e que entrou na associação como criminoso e saiu como um ser humano reabilitado.

Conta que, antes de ser detido, não sabia muito da vida nem tinha nenhum interesse em aprender porque considerava que o crime lhe dava aquilo de que precisava. Jelletly inscreveu-se num curso de formação profissional no setor da construção civil, oferecido na prisão pela APAC. Foi um dos 300 reclusos a obter um diploma no quadro dos cursos de formação apoiados pelo projeto.

Após sair da prisão e graças às suas novas competências conseguiu encontrar trabalho na construção civil na sua cidade e afirma: «Mudei totalmente de vida. As mãos que destruíam agora constroem casas. Aprendi muito: assentar tijolos, fazer massa de pedreiro, pintar, etc. Mas aprendi muito mais do que isso. Hoje compreendo que a construção é uma arte e sei como construir em vez de destruir”. 

FACTOS E NÚMEROS​

  • A valorização do ser humano e da sua capacidade de recuperação é um fator essencial da metodologia da APAC.
  • O tratamento baseia-se numa disciplina rigorosa, na participação da família e da comunidade e na importância da educação e do trabalho.
  • Em 2013, a população prisional no Brasil era de 584 000 pessoas.
Post category
News stories
Editorial sections
Brazil