Num mundo em desordem, a Europa precisa de parceiros

"A Europa deve reger-se por princípios, mas sem ser dogmática. Aberta, mas não fraca. Progressista, mas não ingénua. Procuramos agir a nível multilateral sempre que podemos e de maneira autónoma se tivermos de o fazer."
Na minha introdução, tentei resumir as principais tendências que determinam o novo panorama geopolítico. A este respeito, o ponto de partida é reconhecer que a ordem liderada pelo Ocidente está em crise.
Com efeito, a pandemia de COVID-19 é a primeira grande crise em muitas décadas em que os Estados Unidos não estão na vanguarda e este governo americano retirou-se da ordem mundial que em tempos construiu.
A China está cada vez mais assertiva
A China, por seu lado, está cada vez mais assertiva e estamos a assistir a uma rivalidade estratégica entre os Estados Unidos e a China, que provavelmente será o principal eixo da política mundial por muitos anos.
Temos agora uma verdadeira crise do multilateralismo: o G7 e o G20 estão ausentes; o Conselho de Segurança das Nações Unidas está paralisado e muitas organizações "técnicas" estão transformadas em arenas em que os países competem pela influência.
"O mundo é hoje mais multipolar do que multilateral."
O resultado é um mundo mais multipolar do que multilateral.
Observamos também o aumento das desigualdades e das discrepâncias económicas tanto na Europa como a nível mundial. E em todo o mundo, assistimos a tensões entre o respeito pela ciência e a elaboração de políticas com base em dados concretos, por um lado, e o apelo constante do nacionalismo e das políticas autoritárias, por outro.
Obviamente, nenhuma destas tendências é nova per se. Mas no contexto da crise da COVID-19, é esta combinação que torna a situação tão difícil.
A Europa tem de defender o seu modelo
Enquanto combatemos a pandemia e as suas consequências, a Europa tem de defender a abertura do nosso modelo e a natureza democrática do nosso sistema, que estiveram na origem do nosso êxito. Não estamos a "impor" nada a ninguém. Mas não podemos aceitar que a nossa opção pela democracia seja desconsiderada ou comprometida.
"A Europa sente-se algo sozinha na defesa do multilateralismo. É óbvio que precisamos de parceiros."
Embora o diagnóstico deva ser sóbrio, temos de evitar o fatalismo e a paralisia. A Europa sente-se algo sozinha na defesa do multilateralismo. É óbvio que precisamos de parceiros.
Destaquei o nosso desejo de fazer da Europa um parceiro de eleição. Devemos reger-nos por princípios, mas sem sermos dogmáticos. Abertos, mas não fracos. Progressistas, mas não ingénuos. Procuramos agir a nível multilateral sempre que podemos e de maneira autónoma se tivermos de o fazer."
A parceria com África é essencial
O debate concentrou-se nos muitos domínios em que a cooperação multilateral poderá ser reforçada, desde a luta contra a pandemia e a busca de uma vacina fiável, como bem público mundial, à recuperação económica e à sua relação com a ação climática, passando pelos desafios prementes em matéria de segurança, tanto na vizinhança da UE como no resto do mundo. A nossa parceria com África gozou de grande destaque, tal como a questão dos moldes em que se deverá reformar e relançar o multilateralismo para fazer face a antigos como a novos desafios.
"Temos de conseguir resolver problemas e defender as pessoas. De momento, os resultados ainda não são bons. Temos de fazer melhor coletivamente."
Por fim, temos de provar à sociedade que "o sistema" é capaz de resolver problemas e de a defender. De momento, os resultados ainda não são bons. Temos a responsabilidade coletiva de fazer melhor.
O debate deixou-me convicto de que há muita gente noutras regiões do mundo bastante interessada em estabelecer relações de parceria com a Europa. Querem um compromisso maior, melhor e mais rápido da UE. O que nem sempre é fácil de cumprir, mas a mensagem foi ouvida, alto e bom som.
Pode ver o debate na íntegra em:
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